28 de dez. de 2007

A6

“E ele chorava muito e parecia estar num estado de transe, como se tivesse dormindo ou coisa parecida. Tentei acordá-lo, eu já estava bastante desesperada. Mas ele somente gritava muito e chorava por causa da tal dor misteriosa. Aquela cena chamou a atenção das demais pessoas. Um homem se apresentou como médico e começou a examiná-lo.

‘Nunca vi isso, ele está acordado mas seus impulsos nervosos não são controlados por ele mesmo. É um quadro semelhante à epilepsia, contudo...’ o médico cessa ao ver que o jovem não mais grita ou se debate. Muito pelo contrário, levanta-se calmamente e volta ao seu estado normal.

Exceto pelo seu olhar; estava estranho, quase debochado e malévolo. ‘Você está melhor rapaz?!’ o médico pergunta inutilmente pois ele não entende muito de português. Eu pergunto como ele está, abraçando-o e afagando sua cabeça.

‘I can talk to them...They say they want to...to take one of your…you´ll see…the soul…they said we will never…’ As palavras dele não eram somente confusas, mas também aterradoras. Ele podia falar com eles e eles queriam algo de mim... O que seria?

As luzes falham agora, tudo está escuro. Sentimos um calor infernal e uma fumaça verde fosforescente sai pelos dutos de ar. Lembravam uma festa rave, mas sabíamos que aquilo era o nosso fim.

Não sei como, acordei. Estava em uma sala branca, totalmente branca. Eu e as demais pessoas, todas dentro de tubos espalhados sistematicamente pelo chão da sala oval. Os tubos eram preenchidos por um líquido azulado, bem claro, quase da cor do céu. Respirávamos por sondas implantadas em nossas cavidades nasais. Estávamos nus.

Uma porta se abre e um ser entra, e mais outro e mais outros. Eram eu, meus pais, o gato, meu amigo e meu namorado, todos muito bem vestidos de médicos. Eu caminho até o tubo em que ‘eu’ estou ‘Foi divertido não foi?’ Fiquei um bom tempo sem entender até o líquido do tubo foi retirado ‘Vou morrer Renée’ disse eu para mim mesma ‘ e você vai ficar no meu lugar’

‘Todos nós vamos morrer em poucas horas’ disse meu namorado me abraçando. ‘Agora vocês estão prontos para nos substituir’ disse meu amigo. ‘Não se preocupem, vocês não se lembrarão de nada amanhã’ disse meu pai. ‘Miau’ disse o gato para seu clone também.”

‘Renée! Hora do almoço! Se levanta, já são 12 horas!’ – disse minha mãe hoje meio dia interrompendo meu sono...

A5

“Conseguimos a imagem de um Airbus da TAM. O avião vinha de Frankfurt com destino a Teresina mesmo. Vimos os momentos de desespero, vimos as pessoas carbonizarem e se despedaçarem entre as ferragens.

Por incrível que pareça as luzes do avião não desligaram quando este caiu. Viramos à esquerda adentrando um novo túnel; parecíamos saber onde estávamos indo. O tal Airbus estava lá, lembro por causa das luzes acesas e o amassado inconfundível, abrira uma cratera onde antes era a Igreja São Benedito. Não preciso mencionar a morte dos fiéis também.

Uma pessoa sobreviveu ao acidente, um passageiro do Airbus. Outro misto de milagre com susto, era meu namorado, que decidiu fazer uma surpresa também; mas ele era um pouco menos bem humorado que meu amigo, talvez pela cultura de seu país, talvez pelo susto e pela sorte de ter renascido. De qualquer forma, estava muito contente em vê-lo são e salvo também.

De repente, outras pessoas começaram a sair do avião, mas não pareciam de fato pessoas normais e vivas. Algumas sem perna, outras sem cabeça, arrastavam-se umas por cima das outras e por cima de membros palpitantes, deslizando sobre o sangue.

Tirei muitas fotos enquanto corria de costas, não sei como consegui tal proeza. Medo, muito medo. Aquilo tudo era inacreditável e assustador. Dei-me conta de que ainda estava descalça, ainda com roupa social, mas isso não atrapalhou muito. Rasguei um pouco as laterais da saia para correr melhor e abandonei o blaser no caminho. Seguimos correndo pelos túneis até encontrarmos um elevador. Era bem espelhado também, lembrava-me de meu trabalho, a emissora de TV que provavelmente suma em fade out também neste momento.

Subimos, não sei pra que, mas subimos. Quando a porta abriu, três criaturas estranhas,tais quais as que vi na transmissão de Mikerinos, nos fitaram com seus olhares negros e amendoados. Mais fotos e tirei, mais pavor eu sentia. Elas pareciam incomodadas e começaram a correr em nossa direção. Estavam longe o suficiente para dar tempo de fechar a porta do elevador. Descemos até um abrigo alguns níveis abaixo, sem mais esperanças.

Chegamos a uma sala blindada, outras pesoas já estavam no local. Sentamo-nos num sofá grande a esquerda. Estávamos distraídos e anestesiados pelo pânico e pelo medo quando vêm os gritos: ‘My head aches! I can not support this pain!’ o rapaz germânico – que se comunica em Inglês com agente – se lança imediatamente ao chão. ‘What a hell are you saying?! What do you want from me?! What do you want, please,what?!’ Ele realmente não parecia falar conosco...”

A4

“Depois da confusão toda, raptamos um laptop e descemos. Eu não sabia da existência daqueles níveis subterrâneos, fui seguindo a multidão até eles. Ligavam a cidade toda por debaixo da terra. Havia um mapa no começo do túnel, um mapa eletrônico, uma projeção num quadro em branco. Como diabos faríamos pra decorar aquilo? Esqueci os celulares e, ironicamente, não havia câmera fotográfica comigo.

‘Calma! Isso é fácil. Vê-me o laptop ai.’ Ele digitou umas loucuras lá tão rápido que seus dedos embaçaram na minha visão míope. Em 6,3798 segundos tínhamos os 2Mb do mapa em ‘nosso’ laptop. ‘Esse PC aqui é dos bons. Bem caro por sinal, inclusive lá no Japão. Mas esses Macs atuam melhor pra trabalhar com vídeos e tals... E também...’ Tive que interrompê-lo pois ali ia começar um discurso científico sobre os computadores da Mac e não tínhamos muito tempo.

O mapa apontava uma entrada para a casa dos meus pais. Morei lá minha vida quase toda e nunca tive notícia de tal entrada. Chegamos lá em poucos minutos. A casa, apesar de bem perto do maior local de incidência dos lasers, estava intacta. O corredor alçapão levava até o meu quarto. Meus pais estavam acuados no canto da sala, temerosos.

Peguei uma mochila e enchi de comida. Peguei também uma das minhas câmeras fotográficas – tinha batalhado demasiadamente para tê-la – que era 28 Giga Pixels, ela fotografava nitidamente até as crateras da lua. Era meu ‘xodó’, não poderia nem considerar a remota hipótese de deixá-la pra trás.

Minha mãe pegou mantimentos também e meu pai a coisa mais valiosa dele: o gato Toluil. O gatinho já estava velho mas ainda era tenaz. Tínhamos outra gatinha, Xena, mas ela morreu há alguns anos, dormindo feito um bebê.

Ouvia-se o barulho do metrô, a buzina. Ele sempre se atrasava mas naquele dia, por ironia do destino, ele estava bem pontual. Outra explosão...Pobres pessoas, digo até pobres literalmente, alguns tinham somente a passagem do metrô e algumas sacolas com comidas que compraram com as esmolas do dia.

Não estava lá, vendo o metrô explodindo, mas imaginei a cena. ‘Olha! Eu consegui acessar as câmeras de segurança dos ônibus e dos aviões comerciais!’ disse meu amigo. Abrimos e deixamos alguns vídeos carregando enquanto descíamos de volta aos túneis: eu, meu amigo, meus pais e o gato. Era um milagre aqueles dispositivos todos ainda funcionarem..."

A3

“Saímos da sala do Diretor Executivo e seguimos correndo pelo longo e largo corredor. O carpete era macio e o salto da minha sandália incomodava muito. Tirei o calçado e segui descalça mesmo. Entrei num dos estúdios de gravação, onde já acontecia o programa que eu auxiliava. As pessoas estavam lá, muito bem acomodadas nas cadeiras, vendo a Apresentadora falar.

O local estava empestado de crianças louras. Era um programa falando sobre crianças albinas. Ninguém ali estava ciente da guerra lá fora. Também não os avisei nada, meu amigo faria esse trabalho.

Subi pela escada em forma de espiral até chegar aos computadores lá em cima. O estúdio era como uma sala de cinema, bem isolado acusticamente – comprovei hoje sua imensa eficácia – com cadeiras confortáveis, um pequeno palco e uma cabine lá em cima, onde eu estava.

Entrei na sala e pouco liguei para os controladores, eles também nem se moveram pra impedir qualquer coisa. Conectei tudo o que podia ser conectável naqueles computadores. ‘O que diabos aconteceu com o teleprompt?!’ Perguntava o diretor do programa enquanto a apresentadora faz aquela cara de ‘não to entendendo’, mas ela soube improvisar bem até chegar a hora dos comerciais.

Os monitores de LCD, uns 20, dispostos na pequena câmara, mostravam diferentes paisagens daquela guerra que acontecia aqui. O Cristo Redentor perdera os braços, o Cabeça-de-Cuia, um monte de concreto partido, Torre Eiffel, Estatua da Liberdade... pelos deuses: O Taj Mahal!! Afinal, o que havia de errado com os monumentos? Por que razão eles os odiavam tanto?

Uma TV egípcia, com seu repórter e seu cinegrafista escondidos, transmitia ao vivo uma estranha movimentação de seres no interior da pirâmide Mikerinos . Eram criaturas horrendas: altas, cinza escuro, com uma cabeça enorme e cheia de tentáculos. A coisa mais parecida que já vi, foram os ETs do filme Independence Day, nos seus trajes de guerra.

Meu colega, falou o mais delicadamente possível sobre o acontecido, mas não pôde controlar o pânico das pessoas, que agora pareciam baratas desgovernadas. As cabecinhas louras, correndo pra lá e pra cá, me pareciam quase cômicas, mas aquilo tudo era sério demais pra se fazer piadas.”

27 de dez. de 2007

A2

“Não acreditava no que meus olhos 'descoculados' viam. O objeto metálico, que mais parecia dois pratos de ouro, deslizava rapidamente entre as nuvens crepusculares e se aproximava do chão com velocidade constante. Repentinamente, outros objetos idênticos saiam por de trás das nuvens pálidas, contrastando-se com elas e confundindo-se com gradiente no céu.

Eram incontáveis agora. Minha reação foi ímpar: sair correndo. A porta de entrada da TV estava muito longe, então abri uma das janelas espelhadas de uma daquelas salas que ficavam no térreo e lá entrei. Era a sala do Diretor executivo, um cara bem antipático. A secretária ‘boasuda’ dele ainda estava lá, provavelmente tinham acasalado momentos antes.

‘Você não pode ficar aqui meu bem, já vou fechar a sala’ ela disse com uma voz irritante, como quem está em um orgasmo constante. Eu estava simplesmente em pânico, só consegui ficar ali ao lado da janela espelhada – agora bem fechada – olhando a cidade ser destruída.

Ela quando notou o que acontecia lá fora, pôs-se ao chão em pranto: ‘Meu deus! Vamos morrer!’ Peguei o celular em cima da mesa, não sabia de quem era, só conseguia pensar em ligar pra uma pessoa. Sentia que ele poderia, não como diabos, ajudar-me naquela situação. Mas estava tão nervosa que não conseguia apertar direito os botões do celular.

Alguém bate à janela. Que susto e que alívio ao mesmo tempo, quase uma sensação de milagre. Ele conseguira passar pelo campo de batalha e estava lá, era ele sim, como se tivesse atendido à chamada que não fiz! Ele estava há um mês no Japão, finalizando um doutorado em alguma coisa da computação, não sabia se voltava.

Abri a tal janela instantaneamente e logo que ele entrara o abracei como nunca antes. ‘Olha, não precisava essa festa toda pra me recepcionar! Fico muito grato!’ Ele não perde o humor nem nessas horas. ‘Eu fiquei sabendo que a TV era aqui agora, ai resolvi te fazer uma visitinha. Daí, depois eu...’

Sua frase fora interrompida por um barulho ensurdecedor. A Igreja dos Loucos, logo à frente, fora minada por uma bomba esquisita. Pude ver o desespero das pessoas queimando vivas, algumas sublimavam depois de alguns segundos enquanto as estruturas da Igreja pareciam sumir como num efeito de fade out.

As aeronaves da FAB ‘birravam’ com os objetos metálicos, mas eram insignificantes em número e poder de fogo. Os OVNIS disparavam lasers que causavam combustão instantânea nas coisas, o que quer que fosse atingido por aquilo virava cinzas na mesma hora... Era mesmo o Apocalipse..."

26 de dez. de 2007

A1

"Era um típico começo de noite. O céu passava do amarelo para o abóbora, para o azul celeste, para o azul marinho. Pairava no ar aquele odorzinho de combustível queimado. Era o tal horário de 'pico', quando as pessoas voltavam de seus trabalhos ou das escolas e as ruas estão um caos, lotadas de veículos das mais diversas naturezas. Eu, na verdade, estava indo ao trabalho. Meu expediente começava às 18:30. Eu fazia a parte de fotografia e edição de imagens de um programa muito visto ultimamente, muito patrocinado e muito respeitado.

Também era responsável pela edição das notícias on line da emissora, mas isso eu podia fazer directo de minha moradia. Recebia e-mails de todo o Brasil e todo o mundo, com notícias já prontas ou com informações necessárias para eu mesma redigir uma notícia. Não confiava totalmente nas fontes cibernéticas, então sempre checava as informações, geralmente uma rápida ligação para minhas demais fontes.

A TV onde eu trabalhava ficava bem perto da casa dos meus pais, onde fora antigamente o famoso Instituto Educacional Antonino Freire, bem em frente ao Cemitério São José, ao lado de uma central do RONE. Por isso, eu passava os 15 dias de trabalho hospedada na casa deles e deixava para ficar em meu apartamento os outros 15 dias de 'folga' que eu tinha por mês - tempo em que eu era a responsável pela edição das notícias on line.

Vagava pelo caminho de ida ao meu trabalho sem ter muito no que pensar: não tinha filhos, nem animais de estimação, não tinha família constituída. Morava só 15 dias por mes, e com meus pais os demais 15 dias. Tinha apenas algumas lembranças de meus amigos, umas 'memórias de um futuro' que prometemos uns aos outros, de viagens que faríamos em breve.

Eu passava por ali em frente à 'Igreja dos Loucos' - nome que meus colegas de trabalho deram p´ro monumento - e me deparava rindo das actuações daquelas pessoas. Eles berravam muito, adoravam falar de 'Satanás' e afirmavam que o Apocalipse estava próximo.

Enquanto meu expediente não começava, eu ficava ali na praça em frente à TV. Nunca imaginei que estaria lá depois de tanto tempo, cresci lá e agora, aos 30, muita coisa tem perdido o sentido na minha vida. Como sempre, fiquei a 'descansar' meu olhar, algo que alguns chamam de distracção, outros de pensamento profundo, outros de reflexão. Eu apenas esvazio minha mente (ou ao menos chego bem próximo disso), fixando meu olhar em um ponto qualquer. Hoje fora no céu.

Uma estrela me chamava atenção. Parecia mover-se, aumentar, diminuir. Deveria ser impressão minha, meus óculos estavam na minha mesa, lá no ultimo corredor da TV e eu não me dava muito bem com lentes de contacto. Parei de descansar os olhos e comecei a piscar freneticamente... incrédula. O que diabos era aquilo que estava lá no céu?!"


18 de dez. de 2007

Dezessete minutos e meio...

Por Caio Bruno

Emiliano Miranda era uma pessoa correta e rica. Pelo menos para o padrão social da época. Pertencente a uma tradicional família de médicos; tinha se formado também em medicina e escolhido a carreira de neurologista. Desenvolvia a profissão com louvor, era o melhor médico do Velho Mundo. Ninguém abria mão de se consultar com o doutor Miranda mesmo que fosse para pagar o que não tinha.

Mas o homem considerava-se mais brilhante em outro aspecto: o casamento com Laura Albuquerque. “Como é bela... a alva Laura”, pensava todos os dias o bom senhor. Fazia de tudo para satisfazer as vontades da parceira. Ambos conheciam em detalhes todo o diâmetro terrestre. Segundo Emiliano, Laura não devia trabalhar. Assim era. Apenas lia, tocava piano, colecionava antiguidades orientais e escrevia versos de caráter simbolista. Parecia ter virilidade eterna.

Filha de uma corja de pintores – e culta -, a linda jovem costumava freqüentar saraus e rodas de debate filosófico, sempre de braços dados com o marido. Aliás, o boticário achava tudo aquilo um saco. Ouvia a tudo, mas não entendia de fato o que se tratava. Devido à alma fundamentalmente metódica, achava que de etéreo bastava o amor por sua ruiva. Bastava (“e olhe lá”). O resto era tudo calculado e planejado sem mais embates – no sexo principalmente, sempre eram os mesmos dezessete minutos e meio de prazer ao lado de sua gostosura.

Certo dia, Emiliano chega cedo em casa, e encontra a amada fazendo um sexo oral devastador na robusta empregada do recinto. Perplexo, não consegue falar nada, quando a iniciativa vem da própria esposa.

- Estou indo embora agora, eu a amo. Maria tem tudo que preciso.

De mãos dadas com a negra serva, pela porta da frente e levando apenas a roupa do corpo, sai para nunca mais ver a face contemplativa do honorável moço.

(E) Só então Emiliano entendeu o Amor.




9 de dez. de 2007

Uma lágrima depois...



O que há depois de tudo? Por que agir, para que pensar, sentir interagir... se o que há depois é so a morte? Matem-se todos vocês, mas não me comuniquem antecipadamente pois seus planos podem dar errado. Há uma mistura insana no meu pensamento agora e de certa forma escrever pro nada é uma boa forma de aliviar a tensão...

Ninguém vai ler isso, ninguém vai se importar, eu sei. Mas veja, Nada, você que se importa e me espera de certa forma, a impaciência, esta virtude que condeno em demasia tem me perseguido e sinceramente... vocês que me prometem tanto... que me falam tantas coisas legais... nenhum de vocês entendeu.

Digo até que piorei minha situação, pois minha mediocridade incomoda, não é verdade? Eu estou sempre aqui pra ouví-los, sempre estive... Veja bem, Nada, já que sou tão importante pra você eu tenho direito de ser ouvida. Aliás, esqueça o que há por trás das palavras, as palavras são invenções inúteis (posso blasfemar à vontade, sou isignifante) que até agora só serviram pra me afastar daquilo que seria um propósito escondido nelas.

Olhe pra você, Nada, sinta esse frio também. Aqui debaixo d´água não posso te ouvir e isso é bom. Você está aí, observando meu fracasso e como ser superior de sua própria vida você se delicia com o espetáculo.

Duvidar é bom. Duvide sempre e, sempre que possível, prove que aquilo que você duvida mereceu tal tratamento pois aquilo é falso. Seus valores são inúteis e você, já que se considera o tal, é um inútil também. Já que você não existe, não serve para absolutamente nada....

Estou esvaziando também, vou ser que nem você um dia, sei que vou. Mas até lá vou enfrentá-lo, meu grande amor. Agora me resta saber até que ponto vale a pena, até que ponto vale gritar aqui pro Nada... O que é o nada?

Sou a tal arvore caindo em meio a uma floresta que não tem seres pensantes pra me ouvir. Farei algum barulho? Não. Mesmo assim obrigada por me ouvir.



Imagem: "What your soul sings"by Don Paolo (www.deviantart.com)

20 de nov. de 2007

Esticestus Vunestus Onec Loi Ihner Final Beta

O Mor Az Odos Entarem5 Gir Nsanamente 4

A volúpia do vulto vidente vive o verso² que volta no³ vento,
Fazendo¹ às vezes zoologias vazias em Veneza,
Tapando o tormento tempestuoso e intemperado desta terra tramitante,

Trajante em tangerinas ligeiras e sujas que se juntam à janela de Júlia,
Arando a areia do coreto,
Imprudente despeito por perto da ponte...



NOTA: Um doce pra quem adivinhar o que está escrito...Está demoniacamente difícil!! Talvez nem eu mesma saiba o que é isto amanha...hahahahahahaha Dica: Siga os 666 números para resolver.

NOTE: A candy for the one who guess what is written ... It´s "demoniacaly" difficult! Perhaps even myself will not be able to know what it means tomorrow ... hahahahahahaha Hint: Flollow the 666 numbers to solve it.



30 de out. de 2007

Soltura

"Greves afastam vestibulandos das universidades públicas” e esse problema intestinal está fazendo com que muita gente vá para a “privada” cada vez mais. Não que ela seja ruim, há algumas que são até bem aconchegantes, relaxantes mesmo. Mas a dimensão do enigma ultrapassa as portas de toaletes bem ornamentados e confeitarias luxuosas.

Baseados em falatórios ultrapassados e demasiadamente repetidos (além de distorcidos, o que denota o imenso grau de evolução da “doença”), alguns que se acham incapazes de competir e vencer, caprichosamente – e abastadamente – optam pelo ”escolher”, não pelo “ser escolhido”.

É mais cômodo comprar o peixe morto no supermercado do que pescá-lo, fitar as trevas à luz. O tempo não é um problema, apenas desculpa. Os obstáculos não são intransponíveis, somente cansativos. Imparcial e subjetivamente falando, considero as blasfêmias divulgadas contra a UFPI e a UESPI um problema muito grave.

Mostra-se que a falta de empenho e força de superação de certos jovens é cada dia mais crescente, mais preocupante, pondo em xeque o que seria a real função de um estudante propriamente dito. A matéria exibida neste último Domingo no Jornal O Dia cutucou não só minha indignação, mas também minhas certezas.

Igualando os termos “imparcialidade” e “desvantagem”, o recolhimento dos relatos de estudantes das escolas particulares foi feito de maneira infeliz, mostrando opiniões isoladas que só refletem a germinação de uma semente chamada “interesse empresarial e político”, plantada nas mentes desprovidas de conhecimento relevante.

Posso reafirmar minhas convicções por ter sido testemunha ocular de um ambiente “faculdário”, mas não desejo aqui trair e desmentir minhas palavras. Não me igualarei aos meus perturbadores nem tampouco serei antiética a ponto mostrar-lhes as vísceras que colhi naquele lugar; mas é bastante curioso um vestibular que não informa o número de vagas e a aprovação de 65 alunos num curso em que foram inscritos somente 42.

Na falta de bons alimentos, os fast-foods intoxicados da vida acadêmica são enfiados goela abaixo nos alunos, causando aquela fina e delicada sensação de calafrio ventral... O jeito é correr pra “privada” e lá “descer o barro”, como dizem os comuns. E esse barro vai pro mercado de trabalho em contingentes mais numerosos a cada semestre, deixando pairar no ar aquele odorzinho de desemprego e desespero.

A verdade é que estamos presenciando o fim da UFPI e da UESPI, nos mesmos moldes da decadência do Colégio Estadual Zacarias de Góis – LICEU PIAUIENSE e de tantos outros que não tiveram a mesma tradição e nem a mesma oportunidade de formar muitas das figuras que conduzem nosso Estado.

A ruína é lenta, porém imensamente perceptível. Na falta de incentivo e por ser minoria, resta-me conviver solitariamente nessa minha “prisão de ventre” que eu tanto amo. Meus sinceros pêsames às futuras gerações...



28 de out. de 2007

Os Sinos de Nagasaki

"Todos me chamavam ao mesmo tempo: eram doentes do hospital que tinham sobrevivido, ou melhor, não tinham ainda morrido... Como a explosão se era na hora de maior movimento, na hora que funcionava o ambulatório para doentes externos, os corredores, as salas de espera, os laboratórios, eram um amontoado de corpos, corpos nus de feridas expostas, corpos nus com a pele em tiras, corpos nus que pareciam de argila pela cinza que aderira a eles.

Espetáculo tão tremendo, que não se podia imaginar que se tratasse de seres humanos, nem que semelhante quadro pudesse jamais existir... Dessa alucinante massa de carne, arrastavam-se lentamente aqueles em que existia ainda um sopro de vida; cercavam-me, agarravam-me as pernas: 'Salve-me, doutor!' - gemiam eles. Alguns, impossibilitados de falar, exibiam apenas suas chagas.

(...) Vinte minutos tinham se passado depois da explosão. Toda a região de Urakami ardia em grandes labaredas. O próprio centro do hospital já pegara fogo. Somente a ala direita, ao longo da colina, permanecia intacta. Mas não tínhamos mais material ou ajudantes; era deixar se propagar o incêndio e contemplar o espetáculo medonho: corpos nus cambaleando, tropeçando, continuavam a escalar a colina para fugir da fornalha. Duas crianças passaram, arrastando o pai morto. Uma jovem mulher corria, apertando contra o peito o filho decapitado. Um casal de velhos, mãos dadas, subiam juntos, lentamnete.

Outra mulher, com as vestes repentinamnte ateadas, rolou pela colina abaixo como uma bola de fogo. Um homem enlouquecera e dançava em cima de um telhado, envlto em chamas. Alguns fugitivos voltavam-se a cada passo, enquanto outros caminhavam firmes para a frente, apavorados demais para voltar. (...). Por detrás desta gente, as labaredas avolumadas aproximavam-se cada vez mais. Felizes ainda eram esses 10% que escaparam do inferno; os outros, presos e soterrados sob escombros, morriam queimados vivos.

(...) A pressão imediata [provocada pela bomba] foi tamanha que, no raio de um quilômetro, todo ser humano que se encontrava do lado de fora, ou num local aberto, morreu instantaneamente ou dentro de poucos minutos. A quinhentos metros da explosão, uma jovem mãe foi encontrada com o ventre aberto seu futuro bebê entres as penas. Muitos cadáveres perderam suas entranhas. A setecentos metros, cabeças foram arrancadas e, por vezes, olhos saltaram das órbitas.Alguns, em conseqüência de hemorragias internas, estavam brancos como folhas de papel, os crânios fraturados deixavam destilar o sangue pelos ouvidos.

O calor chegou a tal violência que, a quinhentos metros, os rostos foram atingidos a ponto de ficarem irreconhecíveis. A um quilômetro, as queimaduras atômicas tinham dilacerado a pele, fazendo-a cair em tiras,dando-lhe um tom marrom avermelhado e deixando à vista a carne sangrenta. A primeira impressão não foi, segundo parece, a de calor; mas a de dor intensa, seguda de frio excessivo. A pele levantada era frágil e saía facilmente. A maioria das vítimas morria com rapidez."

NAGAÍ,Paulo. Os sinos de Nagasaki. São Paulo: Flamboyant, 1656.

O relato acima é de um médico japonês, Paulo Nagaí, que estava em Nagasaki no dia 9 de agosto de 1945, precisamente às 11h02min, momento em que caía sobre essa cidade a seguna bomba atômica na II Guerra Mundial, com apenas o intervalo de três dias em relação à primeira. Nagaí estava ferido mas ainda assim prestava socorros às vítimas do maior ato de violência e intolerância do mundo. P'ra variar, o autor do crime foi o país conhecido com Eatados Unidos da América, cujo ódio mantenho firme em minhas convicções mais profundas. De lá pra cá, esses doentes não mudaram muito sua ideologia : mataram seus próprios "filhos" no 11 de setembro, ainda matam em guerra atual (disputa de xadrez entre velhos amigos de infância), mutilaram torno de 154 pessoas aqui no Brail em acidente aéreo.

Agora imaginem só, este mesmo país que mata por futilidades burguesas não quer permitir as pesquisas com células tronco, por se tratarem de vidas inocentes destruídas. Digam-me, eles pensaram nas mães e filhos carbonizados em Hiroshima e Nagasaki? Sentiram pesares pelas vítimas do 1907 da Gol? Nunca sentiram e jamais sentirão. Imundos! Não digo que pensam somente em dinheiro porque nem sei se esses animais desenvolveram a capacidade de pensar. É triste e desoladora minha sensação de inutilidade... Não é possível que ninguém mais consiga visualizar esse absurdo!

Resta o consolo dos pensamentos previamente elaborados, em torno da vontade do "ser" humano : "Esforçar-se para viver ou esforçar-se para morrer" (The Shawshank Redemption. Castle Rock Entertrainment) . Infelizmente a última opção é mais promissora, não por ser mais cultivada (ainda), mas por ser a mais facilitada e incentivada.

Iguais

A verdade em si é uma semente germinadora de traições. Ninguém, ou pelo menos pouquíssimos seres suportam a verdade. Eu sou um desses seres "insuportantes"...Veja, enquanto estou aqui lamentando por meus "leves" infortúnios, vagam por este mundo infame milhares de almas desprovidas de qualquer conforto. Isto eu sei, porém não aceito.

Condeno nossa conduta pútrida, nós burgueses nos escondendo em nossos castelos escandinavos, encenando uma vida insatisfeita para uma corte de maculados inergúmenos que nos cercam e assim progredindo no caminho do total regresso. Aprendemos a subestimar nossas próprias virtudes e dos nossos princípios tecemos uma teia cinzenta. Esculpimos um mundo conforme nós somos, não para admirá-lo, mas para dominá-lo e por fim sentirmos a personificação do poder e o corpóreo entorpecimento que o mesmo nos traz.

Eu sou alguém cercada de honras e traições, mas o que mais me degrada é exatamente essa podridão sentimental que criamos para com nossos semelhantes. Não defendo em hipótese alguma qualquer tipo de massificação. Mas o flagelo das nações é algo que vai muito além da compreenção e dos desvarios infantis de qualquer um aqui, que está confortavelmente acomodado em frente a uma máquina desenvolvida para pensar por nós.

Não passamos fome nem frio, não presenciamos a morte brutal de nossos consanguíneos e muito menos precisamos tolerar a injustiça. Aprendi e sofri com a força de uma acusação, de alguém que fala sem pensar o mínimo necessario antes. Mas foi essa força que se auto-aniquilou, diante de sua inferioridade perante a vida como um todo.

Devemos resgatar os enfermos de nosso sistema e dar-lhes água e comida, amor e ideais a serem seguidos, contestados, difundidos ou deteriorados. Por um mundo menos humano - a desumanidade é uma dádiva da razão - e menos terreno é que invoco a mão da morte às nossas injustiças sociais!

27 de out. de 2007

Crie seus Próprios Conceitos


I

A superioridade alheia incomoda, principalmente em se tratando de intelectualismo. Quantas vezes serei renegada ou repudiada pelo simples fato de pensar diferente de alguns certamente não é meu interesse em vida e acredito que meus objetivos vão além das convenções sociais estabelecidas pelos primatas “evoluídos” que habitam a Terra. As condições que me são impostas me agridem e me incomodam até a alma – se é que minha insignificância me permite ter uma e se é que a alma realmente existe – e me vejo perplexa diante dos demais que as tratam como invisíveis.

A sociedade, principalmente a provinciana que me “acomoda”, é um grande vaso sanitário de boca aberta ávido por receber os coliformes fecais do que quer que seja. Não faço parte dela e isso, infelizmente, não significa que ela me é indiferente. Assim falo pois a sociedade é definida de acordo com generalizações e médias, o que torna evidentes os abusivos erros dos conceituados “socializados”. Visualize assim: a média etária entre um ancião com cem anos e um embrião pré-fecundado é de cinqüenta anos. Nenhum dos dois tem cinqüenta anos (ou pelo menos um já passou disso enquanto o outro não) e é isso que acontece com essa sociedade nauseante : ela absorve aqueles que nada se assemelham com a mesma e acaba por denegrir tais imagens, condicionando-as a seguir o mesmo caminho dos infelizes que a compõem fielmente.

Quero deixar translúcido meu conceito de sociedade para por fim aos eventuais mal entendidos que tanto me perseguem e que tanto me fazem ferir a quem não quero. O termo sociedade para mim nada mais é que um conjunto de animais pensantes homogeneizados e sem personalidade própria. É o típico ser que prefere desmatar a Amazônia inteira à pensar sobre algo durante trinta minutos e escrever o que pensou. São os inconseqüentes donos da “verdade” ; esta, em termos sociais, não passa de uma opinião que prevalece em prol do desvario de algum estúpido em ascensão . Assim, minha visão de sociedade ultrapassa os limites tradicionais, que já não têm tanto valor mesmo aos entusiastas da maciça.

II

Este escrito é destinado aos esquecidos, aos que erraram o caminho e estão envoltos por trevas, perdidos dento de si mesmos. Aos excluídos, aos “homens que nasceram póstumos” – segundo Nietzsche – e às mulheres esquecidas pelo mesmo filósofo machista, que têm, assim como os seres de protuberância horrenda, o direito de errar e de permanecer no erro por vontade própria ou não. Eu sou uma dessas mulheres póstumas e meu destino é ser uma triste lembrança na vida daqueles que me cercam. Sou uma mártir para mim mesma, me odiando e me amando por importar-me ou não com as opiniões porcas dessa gente que me incomoda.
III

Conceituar um agrupamento de indivíduos é fácil uma vez que muitos diferem apenas nas impressões digitais. Contudo, não quero levar-vos a pensar que o vento nos encéfalos humanos é presente em todos. Conheci e conheço muitos remanescentes do bom-senso, que – apesar das diferenças que os “insanos” manifestam entre si – surpreendem até mesmo as minhas desfalecidas expectativas. Minha missiva pode parecer cansativa e geral demais, mas repito que é desnecessária a atenção dos impacientes, pois esta é uma virtude que geralmente condeno. O conhecimento deixa seguro aquele que o possui e a impaciência, em muito, nada mais é que uma manifestação de medo e infantilidade quando o assunto é a própria vivência.

Não me autodefino como uma criatura misantrópica (até mesmo porque isso não existe mais em um mundo como esse) pois não temo a sociedade e não a evito, apenas a repudio. O que pode ocorrer atualmente é encontrarmos um ermitão nos lugares mais inóspitos, o que não passa de um triste modo de chamar excessivamente a atenção à tal de sociedade. Talvez tenha sido esta minha tática de inclusão social quando eu estava de olhos fechados para tamanha hipocrisia e sujeira do mundo. Hoje, aos dezoito anos e alguns dias (sim, dezoito anos; considero que minha triste jornada começou no momento em que meus progenitores caíram na infelicidade de concederem-me suas heranças genéticas) muitas das vendas caíram de minha face e permanecem somente aquelas que insisto em manter para amenizar minha dor e para não ser mais incompreendida do que eu já sou.

IV

Nada existe, tudo é uma grande propaganda. Não sou bela, não sou intelectual. A propaganda assim me define pois não tenho condições – nem vontade – de suprir aos seus interesses capitalistas. Belo seria aquele que corresponde aos padrões sociais junto à avareza e inferioridade aquisitiva de seus semelhantes. Ironia, eis a essência da humanidade. Além dessa tem-se o orgulho exacerbado que cresce como um câncer nos miolos das pessoas.

Sou uma louca depressiva que fala demais e ouve de menos. Contaram-me isto inumeráveis vezes. Daí notei o quanto incomodo essa gente e isso me faz ser mais louca, mais depressiva e mais insuportável. Acho que eu seria um livro que fora julgado pela capa e, como todo julgamento da massificada, ganhei de todos os seus membros o veredicto de culpada e não tenho o direito de ser julgada por outros.

Hoje, as lágrimas que agora escorrem em meu rosto não são mais de medo, não são de ameaças sofridas, nem melancolias, nem receios. Minhas lágrimas são de rancor e ódio pois minha miudeza existencial e minha supremacia perante a multidão de ignorantes não me permitem vomitar meu ódio profundo de outra maneira. Ódio principalmente pela hipocrisia.

Ódio à hipocrisia da política, que nos diz ser democrática, mas nossas alternativas de escolha, pré-selecionadas rigorosamente, já não contêm os melhores produtos e nos resta os frutos podres e verminosos “em exposição” para atender somente aos interesses dos poderosos, daí o motivo pelo qual não expandirei este comentário – ainda prezo por minha vida – e me posicionarei, assim como os massificados (um país repleto de incultos não questiona os políticos), indiferente à isso.

Os tempos não mudam – até mesmo porque o tempo não existe – e as pessoas também não. Ainda existem miseráveis coletando as imundices alheias e vivendo da hipocrisia de ser um pedinte. Sabe-se que muitas pessoas realmente são necessitadas, mas esse número torna-se aterrorizante quando aliado ao número de acomodados. É um absurdo ver verdadeiros monopólios empresariais de vagabundagem. Mendigos que chegam a faturar quatro mil reais por mês. Têm carro,casa própria e ainda sobra dinheiro para o aluguel de crianças, pois dizem que as pessoas se sensibilizam mais com mendigos acompanhados por elas.

Oportunidades existem para todos mas nem sempre são bem aproveitadas. O que falta nas pessoas é ter perseverança e personalidade, ou seja, viveremos para sempre em um país de desocupados. Um desocupado leva consigo mais dez e os principais desta espécie são os que condicionam os seus respectivos milhões de semelhantes e o pior, são remunerados para fazerem isso!

Ódio à hipocrisia das igrejas, que utilizam sandices – de bêbados nórdicos da Idade Média – para aterrorizar a massa de ignorantes, temerosos e covardes o suficiente para jogar em um ente imaginário os problemas e traumas com os quais não conseguem lidar . À igreja que matou e lucrou, mata e lucra em nome da fé. Às mulheres vulgares que, lamentavelmente, terminam de sujar a pouca honra que algumas conseguiram adquirir com tanta dificuldade ao longo dos anos nesse mundo machista. À maioria das crianças que hoje já nascem corrompidas pelo preconceito e depravamento, que cada vez menos têm respeito a o que quer que seja e são herdeiros do trono do nada que está sendo erguido. Talvez um dia seja obrigada a amar uma dessas criaturas, o que me deixa mais infeliz ainda com minha existência.

Agora,se sua coragem foi suficiente, o leitor deste escrito deve estar se perguntando o verdadeiro motivo pelo qual estou falando essas preciosidades ou asneiras. Os motivos são inúmeros, dentre eles o nojo em ver meu nome na boca de quem repudio. Não faço afirmações e não tiro demasiadas conclusões sobre a honestidade dos princípios de quem não conheço, até o exato ponto em que o mesmo decide ganhar reputação (ou popularidade em termos sociais) blasfemando meu nome.

V

Digamos que o estopim de minhas injúrias foi uma manhã de terça-feira na qual uma massa de ignorantes dizia amém às palavras de um homem. Pedras foram-me lançadas pelas costas nos pensamentos de muitos pelo simples fato de eu ter questionado.

Como uma conseqüência pelo tempo que passei anulando meus desafetos, tento redigir estas palavras, que não pedem compreensão (se esta vier, agradeço), mas apenas respeito, o mesmo respeito que tive e que infelizmente tenho para com os indivíduos da sociedade. Se eu conseguir tocar a mentalidade de pelo menos uma pessoa – o que pouco provável – será o sinal de que meus sacrifícios valeram a pena.

Todavia, não espero o melhor de ninguém. Acostumei-me a esperar sempre o pior de tudo para que quando ele me apareça não consiga me derrubar, como acontecia antes. Acredito que acontecimentos bons, raros momentos bons, não destroem o emocional, não abalam negativamente a vida e sempre são bem vindos, bem recebidos – embora nem sempre bem vividos. Fatos funestos são os que realmente precisam ser amenizados na chegada, principalmente quando a putrefação é em forma de palavras e o que é pior, palavras originárias de alguém de sua confiança.

Descobri que amigos não existem e que nem todos os que se aproximam de alguém esperam algo bom em troca. Existem pessoas que se contentam apenas em ver à ruína alheia. Precocemente e da pior forma, vi, ou melhor ouvi, “amigos” me difamando para outros “amigos”. Isso foi a mais ou menos seis anos. Quem fez isso (ou melhor, falou) saberá que estou me referindo a ele/ela e também saberá que jamais esqueci disso.

O meio me determinava assim, uma “guarda – rancores” que omitia a verdade. Sim omitia, quero declarar um aspecto meu que se esvaiu junto à minha inocência e ingenuidade : a falsidade. Era falsa como tudo o que se aproximava de mim, porém foi quando comecei a repudiar tais seres que comecei a eliminar suas características impregnadas em mim.

VI

Meus caminhos são repletos de pedras enormes que não consigo enxergar. Minha sorte é, talvez, o fato de eu ter que me machucar em cada uma somente uma vez. Não costumo olhar para trás; quem erra comigo, erra somente uma vez. Jamais perdoei alguém por completo e nunca perdoarei. Abalar a confiança de alguém é algo que não faço sem que abalem a minha confiança primeiro.
Uma tola sentimental, eu me autodenominaria a alguns meses atrás. O meu maior erro era me colocar no lugar dos outros, principalmente daqueles os quais eu fingia, para mim, que eram de minha confiança. Erro nojento, mais nauseante do que um diálogo entre duas massificadas purpuramente fantasiadas. Cansei de conviver com cegos, não cegos fisicamente, mas sim mentalmente.

Eu tenho tanto nojo, que este sobra até para as coisas medíocres que ainda não me ocorreram. Detesto admitir, mas reforçando a minha não indiferença, essas pessoas a quem detesto são as responsáveis pelo que eu me tornei. Não quero explicar nada a ninguém, apenas estou a aproveitar o meu estado de sanidade e bom-senso para expelir minhas injúrias antes que o amanhã eterno me envolva – na melhor das hipóteses –ou quem sabe eu acabe por ceder ao cansaço e caia na merda assim como os massificados. Quem ler meu escrito, por favor, apenas utilize minhas experiências para que não cometa o mesmo erro que eu.

Estou saturada de dar explicações. Notei que existem pessoas que não merecem explicações e simplesmente devem ser ignoradas depois de determinado ponto. Quando insistimos em esclarecer algo a elas, percebemos que nosso esclarecimento é somente uma repetição de tudo o que já fora dito antes e que estamos agindo feito palhaços não remunerados, imundos e aleijados que não merecem a atenção de ninguém. Eu me sinto inútil e indesejada; desagradável e detestada. Minha repulsa contra mim deve-se principalmente à essas pessoas, que na verdade são fantasmas impiedosos, inseguros e fracos que insistem em atormentar meu sóbrio pensamento.

Talvez esteja aqui a resposta – em forma de pergunta – aos meus caros colegas de convivência, que tanto reclamam da minha extensa oratória e reduzida atenção aos seus dizeres. Como poderei falar algo proveitoso para alguém que fecha os ouvidos antes? E como poderei ouvir – entender, para ser mais exata – palavras sem nexo algum, ditas por um ignorante?

A verdade é que nada tenho a dizer àqueles que não estão dispostos a me ouvir.