18 de dez. de 2007

Dezessete minutos e meio...

Por Caio Bruno

Emiliano Miranda era uma pessoa correta e rica. Pelo menos para o padrão social da época. Pertencente a uma tradicional família de médicos; tinha se formado também em medicina e escolhido a carreira de neurologista. Desenvolvia a profissão com louvor, era o melhor médico do Velho Mundo. Ninguém abria mão de se consultar com o doutor Miranda mesmo que fosse para pagar o que não tinha.

Mas o homem considerava-se mais brilhante em outro aspecto: o casamento com Laura Albuquerque. “Como é bela... a alva Laura”, pensava todos os dias o bom senhor. Fazia de tudo para satisfazer as vontades da parceira. Ambos conheciam em detalhes todo o diâmetro terrestre. Segundo Emiliano, Laura não devia trabalhar. Assim era. Apenas lia, tocava piano, colecionava antiguidades orientais e escrevia versos de caráter simbolista. Parecia ter virilidade eterna.

Filha de uma corja de pintores – e culta -, a linda jovem costumava freqüentar saraus e rodas de debate filosófico, sempre de braços dados com o marido. Aliás, o boticário achava tudo aquilo um saco. Ouvia a tudo, mas não entendia de fato o que se tratava. Devido à alma fundamentalmente metódica, achava que de etéreo bastava o amor por sua ruiva. Bastava (“e olhe lá”). O resto era tudo calculado e planejado sem mais embates – no sexo principalmente, sempre eram os mesmos dezessete minutos e meio de prazer ao lado de sua gostosura.

Certo dia, Emiliano chega cedo em casa, e encontra a amada fazendo um sexo oral devastador na robusta empregada do recinto. Perplexo, não consegue falar nada, quando a iniciativa vem da própria esposa.

- Estou indo embora agora, eu a amo. Maria tem tudo que preciso.

De mãos dadas com a negra serva, pela porta da frente e levando apenas a roupa do corpo, sai para nunca mais ver a face contemplativa do honorável moço.

(E) Só então Emiliano entendeu o Amor.




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