15 de set. de 2013

O tempo dos cogumelos

Certamente uma das melhores épocas do ano na Finlândia é o outono, entre os meses de agosto e outubro. Tudo bem que não dá mais pra nadar nos lagos, ou andar de bike confortávelmente, vestindo uma camisa comum e um short. Mas o outono é o tempo dos cogumelos ou sienet, delícias da culinária finlandesa que eu só aprendi a apreciar um dia desses!

Existem centenas e centenas de cogumelos na Finlândia, que nascem naturalmente - e "limpamente" - em quase todos os tipos de terreno. Nem todos são comestíveis. A regra número 1 aqui é nunca tocar num cogumelo que você não conhece. Existem espécies venenosas e algumas até letais. Lembram daquele cogumelo do Mario?

Punakärpässieni aka cogumelo do Mario.

Pois é, simplesmente um dos mais venenosos de todos. Então nem pensar em comer desse ai! Além dos venenosos, existem aqui os cogumelos alucinógenos. Mas nada que eu tenha visto em dois anos de vivência aqui (acredito que esses são os primeiros a desaparecer dos prados e florestas).

Ainda não sou nenhuma expert em cogumelos, mas sei de quatro que são maravilhosos (no sentido culinário da coisa). O meu favorito - e o mais difícil de conseguir, já que todo mundo quer o mesmo - é o Kantarelli: 

Kantarelli. #meu

Geralmente faço sopas, molhos para macarronada, ou simplesmente frito e como com pão. O kantarelli pode ser comido cru também, mas geralmente deixa um gosto esquisito se for consumido assim. 

Meu segundo preferido é o Mustatorvisieni, que em português sera traduzido como "cogumelo do chifre preto". É um dos meus favoritos principalmente porque é um tipo de cogumelo que nasce em colônias mais densas. Ou seja, encontre um, encontre dezenas! Ele é meio feinho e parece estar estragado, mas não se deixe enganar pelas aparências:

Mustatorvisieni aka "cogumelo do chifre preto".

E, como disse, ao achar um, achei todos esses:

Caçada bem sucedida :)

Além desses dois, sei da existência do suppilovahvero e do herkutatti. Mas não tenho muita sorte pra esses dois, já que moro em cidade e não tenho carro. Geralmente o pessoal aqui faz pequenas viagens nos fins de semana, quando vão direto a lugares onde tem os melhores cogumelos (geralmente nas partes mais remotas das florestas).

Cogumelos podem ser ressecados ou congelados, podendo ser consumidos dentro de um ano. Coisa boa é ter um freezer espaçoso!

13 de set. de 2013

Jejum: resultados

Uma breve demora pra postar coisas novas aqui. Só com o intuito de deixar meu leito Jamil muito preocupado!

Mas então, acabou que ficamos nos três dias de jejum (ao invés de sete). Como eu disse aqui, a parte mais importante desse processo é saber ouvir seu corpo. 

No terceiro dia, cheguei a pesar 42kg. Acho que nem nos tempos de cirurgias constantes eu estive tão sem energia. Pensar custava muito pro meu corpo. Não cheguei a sentir fome. Acho que essa parte eu consegui dominar bem. Quando ao detox, que foi a intenção principal ao optar pelo jejum, acho que funcionou em parte. Tive febres muito altas, significando que eliminei toxinas do meu corpo de certa forma.

Mas era o terceiro dia e decidi que iria romper o jejum. Meu marido também sentiu o mesmo. No final do dia, quebramos o jejum com pedaços de melancia. E sinceramente, nunca comi uma melancia tão cheia de sabor!

Mas os três dias me foram de uma experiência extremamente positiva, onde aprendi que:

- é bom começar o jejum quando se está um tanto acima do peso normal;
- se você nunca fez jejum, começe no nível easy: beba sucos e água de côco ao invés de água pura;
- fome está mais ligada aos nossos rituais/costumes diários do que a necessidade de comer  por si só;
- o jejum me ajudou a pensar (ainda mais) no que decido comer;
- jejum de um dia pode ser a melhor opção para pessoas de pequeno porte como nós aqui :p

Aprendi até mais que isso, mas as histórias ficam pra posts futuros!

Não desisti completamente da ideia. Realmente me senti muito bem no primeiro dia. Agora preciso de mais planejamento pra fazer um jejum por semana.

3 de set. de 2013

Jejum - dia #2

Hoje não foi tão divertido assim. Noite passada não dormi bem. Meu coração passou a noite batendo mais rápido que o normal e também teve uma leve arritmia. Pela manhã, me pesei e vi que perdi meio quilo. A maior parte do dia foi doloroso, já que fui traída pela minha própria natureza feminina: longas cólicas menstruais insuportáveis e claro um leve sangramento. Mas bem menos que o de costume.

Também senti calafrios, suei bastante e passei o dia inteiro com energia muito baixa - até agora, mal tenho forças pra escrever estas poucas linhas.

À tarde, tomei um banho com água morna o que ajudou a aliviar um pouco as cólicas. Deitei um pouco na rede da varanda, momento em que pure respirar um pouco de ar puro. Fiquei lá durante um álbum inteiro de Ludovico Einaudi. Depois voltei pro quarto pra aturar melhor minhas cólicas.

Nada de cogumelos na floresta, nada de ir jogar com os amigos: passei o dia inteiro de cama praticamente. À noitinha desenvolvi febre, que continua até agora, porém de forma mais branda. Mas a vejo de forma positiva, já que é um sinal bem claro que de que meu corpo está se livrando de toxinas.

Meu marido tem se sentido um pouco doentio, mas apresenta claros sinais de progresso, além de aparentar estar em condições bem melhores que a minha. Ele teve energia o suficiente pra sair de casa pra jogar com nossos amigos por umas três horas.

O bom de tudo isso é que não sinto fome. Nem a psicológica, nem a verdadeira. Apesar disso, confesso que às vezes tenho fantasias sobre comer um pedaço de torta de mirtilo.

Espero que amanhã eu esteja melhor e possa desfrutar dos primeiros benefícios do jejum.

2 de set. de 2013

Jejum - dia #1

Não faça jejum sem orientação e bastante pesquisa! E lembre-se de que as coisas que contarei aqui representam minha experiência, que não necessariamente irá se repetir em outro indivíduo. Leia este post para entender porque estou fazendo jejum de água.

Estou com 45.5 kg e a mais de 24 horas sem comer, somente bebendo bastante água. Até agora não senti fome. Não significa porém que não tenho vontade de comer. Significa apenas que não preciso comer, já que reconheço estar passando pela fome psicológica e não a fome verdadeira. E quando estou fazendo alguma coisa, por exemplo jogando xadrês ou brincando com meu gato, nem lembro que "quero" comer.

Até agora, além da língua esbranquiçada, não notei muitos sintomas desencadeados pelo jejum. Senti uma leve dor de cabeça, mas que certamente foi provocada pela luz da tela do computador. Na verdade, há poucas horas, me senti bastante enérgica: limpei a casa, as louças, troquei a terra das plantas e mais! Também achei mais fácil me concentrar enquanto falo com as pessoas. Quanto à concentração na leitura, ainda não consegui atingir um foco ideal - talvez por ter escolhido ler Isaac Asimov ao invés de algo simples como Paulo Coelho.

Meu estômago ainda não "reclamou", somente solta alguns ruídos bem leves de duas em duas horas.

Já meu marido teve um primeiro dia bem difícil, o que é estranho, já que ele tem hábitos (corrida todos os dias, academia, meditação) mais saudáveis que os meus (domir até depois do meio dia, caminhadas bem raras, nada de academia). Mais ou menos após 20 horas depois do começo do jejum ele começou a sentir tonturas, náuseas e eventualmente acabou vomitando bastante.

Amanhã pela manhã vou procurar cogumelos na floresta. À tarde eu e meu marido vamos visitar uns amigos - se ele estiver se sentindo melhor.

Meus sete dias de jejum

Depois de dois anos morando pela Finlândia, acabei aprendendo a me importar mais com as coisas que como. Aprendi a ler as tabelas nutricionais, assim como reconhecer os melhores alimentos - em termos de valor nutricional. Mas não rejeito completamente as "guloseimas", a exemplo da minha Mustikkapiirakka (torta de mirtilo. Receita aqui!) ou do meus bolos de chocolate, ou das várias coisinhas ricas em carboidratos.

A minha grande questão aqui é que, depois que cheguei na Finlândia, meu cérebro não está a funcionar muito bem. Não sei explicar direito, só sinto que vivo numa situação de sonho (não sonho no sentido de "ah meu deus, que sonho morar na Finlândia!", mas no sentido de não conseguir mais me conectar com a realidade naturalmente. É como se toda minha atividade cognitiva precisasse de um esforço tremendo pra tirar resultados de qualquer tipo de interação com a realidade, incluindo interações sociais. Minha mente está nublada, nebulosa.

Sei que mudanças de ambiente geram inquietações que podem perdurar por anos. Na universidade, estudei várias coisas de comunicação intercultural, incluindo a tal da curva U de choque cultural, que ilustra as diferentes fases de adaptação de um ser humano à uma nova cultura:


Curva U do choque cultural: Euforia, ansiedade, rejeição, adaptação. Fonte.

Também sei que comida é o grande quê tanto da cultura, quanto do metabolismo e sobrevivência humana. Logicamente minha dieta mudou quando cheguei aqui. Só que mudou pra melhor, já que agora estou ciente do que como.

Então decidi "reiniciar" meu corpo através de um método bastante antigo: o jejum. Não estou fazendo isso por religião (não acredito em deuses), ou para emagrecer (já peso 46kg). Estou fazendo isso pra desintoxicar - detox - meu corpo e ao mesmo tempo trazer clareza à minha mente.

De acordo com várias pessoas que já fizeram - e continuam fazendo - jejum, os primeiros dias são os mais difíceis, já que você é atormentado pela fome psicológica. Depois que sua mente desiste de lhe derrotar, um período de clareza mental e energia virá (lógico, já que seu corpo não gasta mais tanta energia digerindo sua macarronada ou seu churrasco). Depois desse período, a fome verdadeira chega. Aí é o tempo certo de quebrar o jejum aos poucos, com alimentos fáceis de digerir. O mais importante de tudo isso é aprender a escutar o seu corpo. Acredite, às vezes ele sabe mais sobre você do que sua mente!

Vale lembrar que o jejum não deve ser uma decisão irresponsável. Se você quiser continuar vivo e desfrutar dos benefícios do jejum, você deve pesquisar a coisa com bastante antecedência. Além disso, é recomendável um checkup geral antes do jejum: visite seu médico pra ter certeza que você não tem uma anemia ou coisa do tipo. Mas visite um médico decente, que saiba relativamente muito sobre jejum. E nunca, quero dizer, nunca mesmo se baseie em notícias como esta ou esta. Jornalistas tem mente perecível em se tratando das coisas que escrevem.

Um rapaz que eu gosto de ouvir às vezes:



O jejum que farei será esse da água. Sete dias bebendo somente água - e não comendo. Estou preparada pros enjôos, mau hálito e mal estar em geral.

Então, a parte mais importante do jejum é manter a mente livre das distrações comestíveis. Yoga, meditação, domir, isso tudo serve. Meu plano é fazer tudo isso juntamente com pequenas caminhadas, jogos e, já que tenho tempo de sobra, escrever no blog e contar minha experiência.

1 de set. de 2013

Alguns fatos sobre: Finlândia e Piauí

Existem muitos costumes compartilhados ao reverso entre esses dois distintos pedaços de terra. Alguns costumes não tão ao reverso assim. Os dois respondem pelo mesmo descritivo: aquele lugar quente/frio e distante.

Como piauiense legítima e imigrante estabelecida na Finlândia há mais de dois anos, posso notar certas características que se encontram nesses meus dois lares.

Geografia, história e política

A começar pelas semelhanças geográficas, temos os seguintes mapas territoriais:



Apesar de não saber corretamente em qual escala os mapas acima se estabelecem, creio que as proporções territoriais - em termos de área territorial - estejam corretas.

Com relação à região, o Nordeste é para o Piauí o que a Escandinávia é para a Finlândia: um imenso grupo étnico que compartilha consigo mesmo uma grande variedade de valores históricos e culturais. Em muitos casos, ambos Nordeste e Escandinávia tentam ser livres da responsabilidade de incluir territórios tão "difamados"/"distantes"/"desinteressantes" quando PI e FI.

Os dois carregam sítios milenares, onde se podem encontrar registros das primeiras civilizações humanas/extra-terrestres.

Os dois foram temidos no passado por serem o lar de seres humanos hostis e destemidos. Também compartilham de um passado indígena.

Nos dois locais, a maioria dos problemas que envolvem assuntos legais e de natureza oficial tem de ser resolvidos nas capitais.

Os dois carregam certa mágoa dos (E/e)stados vizinhos.

Clima

O clima é muito parecido entre os dois locais. As temperaturas tem números parecidos: entre 30 e 40 graus. Só que no Piauí é pra mais e na Finlândia é pra menos.

Educação, cultura e lazer

Os dois lugares, renegados por suas respectivas zonas políticas, são casualmente enfatizados quanto à qualidade de seus estudantes.

A cultura local nos dois territórios é rica em sua diversidade. Porém os créditos são sempre dados a outros (E/e)stados, seja pela origem, seja pelo suposto aperfeiçoamento da prática cultural.

Assim como o Piauí, a Finlândia tem a bebida alcóolica como principal fonte de entretenimento e interação social.

Tanto o Piauí quanto a Finlândia tendem a louvar suas tradições e renegar seus ídolos contemporâneos. Um exemplo de tradição entre os dois territórios está relacionado ao forte caráter agrícola dos dois, confirmando na figura de vaqueiros e samis valores histórico e épico. Já entidades como Stephany Absoluta e Frank Aguiar (PI) e Alexi Laiho e Kimi Räikkönen (FI) são tidos como maus representantes de seus respectivos povos, seja por carregarem a confirmação de certos estereótipos, seja por não mais pertencerem aos contornos físicos dos territórios.

Peculiaridades

Na Finlândia, sol é coisa rara. No Piauí, a chuva. Tanto o sol quanto a chuva são loucamente esperados por tudo e por todos nos respectivos lugares. Mas quando chegam, a reação mais natural é evitar. Fechem as cortinas rapidamente para o sol não entrar! Vamos reclamar nas redes sociais sobre a chuva e o frio de hoje, pra ver conseguimos espantá-lo.

A sauna está para a Finlândia assim como o ar-condicionado está para o Piauí.

Paisagens urbanas e rurais são relativamente livres de resíduos poluentes - por exemplo, garrafas e sacolas plásticas pelos acostamentos das estradas. Especialmente se comparando com (E/e)stados vizinhos.

Vários outros detalhes fazem eu me sentir em casa. Mas se os dois lugares são realmente a mesma coisa, por que é que eu decidi ficar por aqui mesmo? A resposta em uma palavra: silêncio.